11 de dezembro de 2008

Sucedeu assim:

O conheço.


Sujeito de opinião, nunca deixa de dizer o que deve ser dito. Tem criatividade, não nego. Suas ideias são umas das únicas que me disponho a ouvir aqui. E é engraçado, como é engraçado! Faz rir com a leitura de um texto... escrito por ele. É alto, robusto, cabelos negros, pele morena clara, olhos....não reparei ainda. Devem ser bonitos. Mas namora, de certo. Vive de abraços com uma menina de cabelos lisos e loiros, não deve nem saber que eu existo. E atua bem, o desgraçado. Gostaria de conversar com ele um dia desses.

Simpatizo com ele.

Ele sabe quem eu sou! Me criticou por certos comportamentos agressivos que tive. Percebi então uma pequena falha de sua dicção, com certeza agravada pela crítica recebida. Mas a crítica não foi de todo ruim, pois pude enfim ver seus olhos, escuros e profundos, olhos de questionador.
Tinha certa empatia, de fato. Conversava abrindo os braços, em gestos teatrais e hipnotizantes. Na despedida, por vezes senti uma atração inusitada, que mais tarde seria confirmada por um amigo, dizendo: "Foi recíproco."

Gosto dele.

Me chamou para ajudá-lo como réplica num teste. Eu aceitei de pronto, quem sabe por impulso. Antes do ensaio, nos comunicamos por olhares e toques desinteressados. Esse diálogo não foi pré-combinado pelos envolvidos, ocorreu enquanto éramos embalados pela ladainha de um amigo. Suas mãos são grandes e me envolvem, sem que tenha que encostar em mim para isso. Havia algo ali. Algo que se assemelha ao breu da noite.

Quero beijá-lo.

Esqueceu-se de mencionar do beijo ao fim da cena. Neste ensaio, misturaram-se temor, profissionalismo e uma vontade não reprimível de tornar o personagem real. Vi falta de coragem nele, como se não bastasse a minha. Num impulso, o beijei. Não creio que ele acreditou.
Mas minha vida não admitia novos compromissos no momento. Gozava da liberdade dos solteiros, e isso me era valioso. Não queria nada mais.

Me apaixonei por ele.

A noite me encobriu então. Tateei no escuro a procura de algo que se assemelhasse com a razão, não encontrei. Seus olhos se tornaram penetrantes e seus beijos me impediam dar opiniões equivocadas. Diz que sente o mesmo por mim, embora eu nunca tenha compartilhado desse meu veredicto com ele. Sua personalidade me confunde, com suas mil ramificações, que me desviam de encontrá-lo na origem. E de certa forma, elas me tragam ainda mais para o precipício que fatalmente viria.

O afastei.

Tive medo. Meu coração batia mais rápido, seus abraços se tornaram mais rápidos. Tudo se acelerava, e ao mesmo tempo se distanciava. Ninguém entendeu o que passava comigo. Tive necessidade de mim. Me tornei ele tão rápido que esquecera os motivos que me fizeram o querer. Não há culpado, mas o fiz vítima. Vítima da minha incerteza.

O amo.

O que antes era propriedade dos olhos pode hoje ser traduzido - em parte - para palavras. Mas as palavras proferidas ainda não transmitem calor que o aqueça, ou um carinho que o acalente. Quereria apagar certos momentos do passado que hoje me constrangem. Mas somos feitos do que se passou. Nada de ruim nunca pôde acontecer quando estive segura por ele. Faz duma tarde abafada e entediante de terça-feira um sonho intenso e concreto. Me elogia, ainda que o espelho me xingue. Me ama, sem dúvida. Hoje ainda o conheço, e melhor. Simpatizo com ele, gosto dele, e continuo a querer beijá-lo. Me encontro apaixonada por ele ainda.
E o amo, inevitavelmente.