4 de fevereiro de 2010

Amanhã me demito.
Amanhã faço um ano de trabalho.
E este amanhã é o mesmo dia, senhores!

Gosto do cheiro do livro.
Gosto das prosas da venda-compra.
Gosto da desordem.
Gosto da não-preocupação com objetivos do dia.
Gosto de pessoas - sem dinheiro na mão e julgamento na boca.
Gosto dos sábados.
Gosto de lá - quando não há olhares acima.

Amanhã vou chorar.
Amanhã me demito.
Amanhã faço um ano no trabalho.
E este amanhã é o mesmo dia, senhores!

Queria ter lido mais.
Queria ter parado de trabalhar e conversado mais.
Queria cuspir sapos.
Queria dizer que salário não constrói caráter.
Queria ter achado um emprego antes de me demitir.

Amanhã vou me arrepender.
Amanhã vou chorar.
Amanhã me demito.
Amanhã faço um ano no trabalho.
E este amanhã é o mesmo dia, senhores!

Volto a ser de casa.
Volto a ver gente.
Volto a fazer o que gosto.
Volto a querer ser independente.
Volto a amar passeios.

Amanhã serei livre.
Amanhã vou me arrepender.
Amanhã vou chorar.
Amanhã me demito.
Amanhã faço um ano no trabalho.
E este amanhã é o mesmo dia, senhores!
Escreva, pois!

no ato de escrever
me hipnotizo quando pequenos quadrados inscritos por letras são pressionados
e ao olhar pra cima
vejo as mesmas letras
alinhadas de forma a mostrar que elas têm significado.

manualmente
essas letras, já em grupos de excursão escolar
dançam os acordes de sinapses
pulam de gomo em gomo no cérebro apertado
transitam memória, sensação e dor
depois se esvaem em lágrima, riso e amor

na automatização do teclado
ou da mão
as letras viram palavras
e as palavras, algo.


Nem sei o quê.
Falando sobre o ontem,
Durou muito o ontem,
pelo fato de o ontem querer ser anteontem.
O desejo do ontem era ser amanhã.

Não passei na USP.
Passei na UNESP.

Entre dois belos doces
O de aparência mais doce dentre os dois
embolorou
ao que o outro
caiu na minha mão.


TEATRO, ENFIM!