11 de setembro de 2010

Embebedai-vos

“É preciso estar-se, sempre, bêbado. Tudo está lá, eis a única questão.
Para não sentir o fardo do tempo que parte vossos ombros e verga-os para a terra,
é preciso embebedar-vos sem trégua.

Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a escolha é vossa. Mas embebedai-vos.

E se, às vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a grama verde de uma vala,
na solidão morna de vosso quarto, vós vos acordardes, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo o que passa, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: “É hora de embebedar-vos! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embebedai-vos, embebedai-vos sem parar!
De vinho, de poesia ou de virtude: a escolha é vossa.”


(Charles Baudelaire)

6 de setembro de 2010

nesta data querida

Só quando eu paro de correr atrás é que eu olho pra trás e vejo que não há ninguém correndo.

Parabéns, me dizem.
Ou não dizem, esquecem.
Ou não esquecem, não querem dizê-lo.
Melhor assim.
Antes o não dito sincero que o dito por obrigação.

Convenhamos, é maior que um aniversário. É não ter motivo pra sorrir porque nada daquilo que não faz sorrir parece ter um conforto em outro lugar. É saber disfarçar em respiração calma o choro amarrado. De feridas abertas trocar continuamente o curativo dos que já nem sentem a dor. Convencer-se da força para não enfraquecer ainda mais quem não tem mais alicerces seguros. Saudar as antigas amizades imaturas que seriam eternas enquanto durasse, eternidade estreita, insuficiente. Perguntar-se das amizades maduras, se existem, pois parecem desconfiadas demais para se deixar levar pelo abraço. Saber-se substituível depois de um auto-convencimento de anos sobre alguma coisa parecida com ser especial e única.

Duas décadas que a uma pessoa com má memória só vem as más lembranças.
Ou as boas e finitas.