17 de abril de 2009

Ervilha Confessional

Ontem, 01:33.

Não consigo dormir.

Tenho, pela frente, 3 horas e 57 minutos em que qualquer sã pessoa se obrigaria a dormir.
Então por que escrevo? Talvez na esperança de que essa insônia intelectual tenha um efeito "sonífero"?!
O que me incomoda é o caroço de ervilha debaixo dos treze colchões, - poderiam ser sete, nove, trinta e três, contando que eu não meta meu nariz no teto, fica a cargo do leitor a quantidade exata - o único que não me amacia o sono, mesmo sob um edredon fofo como uma nuvem quente, que me mantém confortável, ao som dos pingos de água que caem um a um na telha lá fora, numa noite fria ou o quão fria é possível ser no outono de um país tropical.


Claro, essa ervilha seria só mais uma se jogada no caldeirão de sopa de ervilha que anda borbulhando na minha vida. Mas dêem-na exclusividade agora, pois só ela me atrapalha o sono no momento.

Há pouco, divagando sobre ervilhas e seus efeitos anti-lexotânicos, percebi que parara de chorar. Creio que por causa da comicidade da comparação de um problema com um vegetal, talvez.


Tento, em vão, me lembrar de como eu era antes. Não fisicamente, pois sempre fui baixa e gorda, mas além disso, o que mudou? E para quem dirijo essa pergunta? E quem me responderia, se nem a inquisidora sabe a resposta? Não sou a única, e isso e consola. Quantos já não se pegaram na dúvida "Ok, consegui o que queria. Mas por que eu desejava tanto isso? Que tipo de excitação eu sentia na época em que isso era importante pra mim?"?
Queremos, por vezes, voltar ao tempo para sentir a mesma alegria ou vontade que outrora parecia tão forte, e agora... Some da nossa memória, e passa a pertencer à de outra pessoa, aquela que conhecíamos tão bem, que nos originou, embora não a reconheçamos.

Nostalgia. Saudades do que era comum, nos fez feliz e sumiu.
Triste sina essa do homem. Compreender a alegria posteriormente. Alegria póstuma. Hoje talvez, seja feliz. Mas o presente passa tão rápido e, de repente, zapt! Fui feliz.

Escrevo, meio tortamente, da minha vida social. Antes me cercavam amigos por todos os lados. Pensei ser agradável. Antes riam comigo, me diziam indispensável nas saídas. Pensei ser divertida. A cada novo conhecido, o mais novo amigo se tornava. Pensei ser carismática. Não há de se negar, tenho vaidades. Não sou menos digna do que aqueles que se inflam com elogios.

A vaidade não me dominou, mas definitivamente me iludiu. Não via o mundo aos meus pés, mas ao meu lado. E esse mundo exibia-se em sorrisos quando trocávamos olhares. Bem se sabe que sorrisos de cortesia valem menos que a indiferença dos desconhecidos. Mas creio que exigi demais dos que diziam gostar de mim. Exigi que se lembrassem de mim. Inconscientemente, previ que me esqueceriam. E condenei-os, só porque seguiam meus passos.

Sempre fiz apostas sobre quem permaneceria na minha vida, e quem de nada me lembraria. Errei em algumas jogadas, sempre para o meu azar, nunca para a sorte. Difícil ver partir quem deveria permanecer. Mais ainda é partir de onde deveria ficar.

Hoje, - sem querer ser um daqueles vestibulandos que começam sua redação especialistas em algum período da "sociedade" - o amor está em moda.

Ama-se tudo, porque amar é bonito. Mais bonito ainda é dizer que se ama.
Ter tanta preocupação em anunciar um amor ao mundo, em exaltá-lo de todas as maneiras, em empregá-lo em todos os comentários fotográficos de Orkut, que se esquece, às vezes que o alvo é a pessoa amada, e não a platéia que te escuta. Escuta, ou finge que escuta, enquanto posta um recado apaixonantemente vazio para alguém.

Já fui assim, portanto te compreendo bem.

Gosto de dar voltas, admirando a paisagem antes de ultrapassar a linha de chegada. Admito, preciso treinar a objetividade, para que mais pessoas além de mim se atinjam pelas minhas palavras.


Por vezes, pensava ser solícita demais, sempre disponível. Acordei indisponível, vejam só. E os sorrisos daquele mundo cessaram.
E cessarão sempre, por mais que juramentos sejam feitos.

Restam os chamados de recados vagos de futuros encontros saudosos sem horário nem data definida, que nunca acontecerão.

"Penso não ser preocupação de ninguém", minha ervilha retoma o disurso.
É mais confortante preocupar do que divertir.
Sentir que se preocupam com você.
Minha família se preocupa.
Um grande amigo se preocupa.
Outro grande amigo que tem por hábito me furtar beijos também se preocupa.
Quanto aos outros, há dúvidas.

Talvez já tenham se preocupado, mas o tempo os ocupa de outras formas agora.

Mas não se desesperem, não peçam perdão, não se subestimem, nem pensem que eu os subestimei. Pelo contrário, os superestimei no passado.

Eu os amo, ainda.
Amo por serem parte de mim hoje, por terem me construído.
Só quero um amor atemporal, que não se degrade com o tempo, com a distância, que não se desmanche pela falta de contato diário ou pela presença de lágrimas no lugar de risos.

Desejei sumir. Saberia então, se alguém se preocupa.
Saberia?

Se sumisse, todos se preocupariam, assim como todos ririam se eu contasse uma boa piada. Mas, após a excitação do retorno e o término da dor de barriga causada pela coxinha da festa de regresso, quem mais se importaria? Quem seria aquele que, após a piada, me perguntaria o que diabos eu tentava silenciar com gargalhadas tão altas?

Só o que suplico:

Se preocupem,
Se pósocupem,
Se ocupem de mim às vezes.



E boa noite.