29 de maio de 2009

Sobre Respostas Mudas, e Imutáveis

Silêncio voluntário.

Eu, que na impulsividade de falar,
Me calo.
Eu, que não me enxergo na quietude,
Não tenho vontade de falar.
Eu, que debato com ardor,
Me engasgo num nó lacrimoso.
Porque minha voz gera atrito,
sai arranhando-me a garganta.
Silêncio.

Fiz um pacto de silêncio comigo mesma.
Involuntário, sem querer.
Assim como as palavras antes ditas sem querer
hoje saem naturalmente, obrigatoriamente.

Não me sinto bem aqui.
Tenho ânsia de ir.
Pra qualquer lugar, se estiver indo, eu não paro.
Contraio meus músculos em espasmos longos, que me tiram o ar
E o ar se transforma em água, e a água
em tristeza vaporosa.

Já não rebato o dito.
O diálogo não funciona aqui.
O monólogo sem platéia não atinge ninguém além de mim.
Choro, por não ser ouvida.
Choro, por não falar mais.


Quando criança sinto que fui feliz
hoje me sinto uma encomenda
que chega todo dia
e é rejeitada se apresenta defeitos.

Me canso de ouvir
e de me fingir de surda.
"Abaixe esse som!"
Música para calar, para ensurdecer.
O som não é meu.

Trato mal
agrido com o olhar
de quem sofre espasmos
lacrimosos
de quem se aliena de tudo, menos disso
disso que eu não quero viver
mas que vou sentir falta um dia
e por isso sou tratada mal
por quem pergunta por obrigação
quem me julga pra não ser julgado
que ordena
e que não fornece nada além de críticas e dinheiro e caronas.
e deve amar
só não mostra mais
não mostro mais
espasmos que enrijecem a carne
de quem só tem a carne para compartilhar
a alma se esconde
do lado descoberto da casa


me mandam ir dormir
e por isso eu vou
pra não dar tempo a mais ordens
pra não dar tempo a respostas que eu não quero dar
pra não voltar a ouvir.

8 de maio de 2009

O Fluxo Mental da Espera

Será que demora?

Frio hoje; não existe mais educação hoje em dia; onde será que escondem o pudor; sem preconceitos, me disseram; acho que só estaria livre de preconceitos se conhecesse todas as pessoas do mundo; todas as pessoas do mundo me assustam; ainda mais aquelas que estudaram na USP; não sei fazer indicações pra quem sabe mais que eu; gosto de achar que sei mais que os outros; pareço que sei mais quando os outros parecem que sabem menos;

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Acho que é ele...
Será que é?
Como demora!


Ai esse cheiro de pipoca; murcha, feita há 5 horas...mais ainda cheira bem; não me deixar levar pelas aparências...; mas a capa daquele livro era tão atraente; será que minha capa atrairia mais do que meu conteúdo; gosto das escuras, que contrastam com o papel amarelado; gosto das duras, com ranhuras minúsculas, inertes; como uma impressão digital; impressão; a primeira é a que fica; que impressão é essa, que define a identidade sem que para isso sejam necessários dedos molhados em almofadas tinteiras; ela disse 'um ponto de concentração nos desfaz dos preconceitos';

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Agora é, com certeza!
Que certeza, o quê?! Tão lento que chega a dar ódio.
Queria ter algo pra me distrair.
Umas palavras cruzadas talvez...
Seria bom.


Meus pés doem; minhas panturrilhas também; e todo o corpo se une num boicote generalizado; ponto de equilíbrio; pés afastados, joelhos levemente inclinados no eixo do quadril, em harmonia com as costas; e a cabeça?; pende solta; tento me buscar nos outros; não estou alí; de fato, sou preconceituosa; queria não ser tão criteriosa; dizem que o critério define a qualidade; critérios demais me fazem ver com uma viseira; como se eu colocasse uma forminha de biscoito em formato de flor em frente aos olhos, e só o que visse fossem flores; uma floricultura não funcionaria caso não existissem compradores; a plantação de flores não cresceria não fosse a água e o sol; quero ver os compradores também; e o sol; e a água; não quero olhos moldados numa fôrma;

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Olha ele lá.
Não enxergo bem.
Será ele mesmo?
Não, mais uma vez.


Um casal bonito; os casais são bonitos; eles vivem por eles; não querem mais do que um ao outro; os verdadeiros casais; não há preconceitos; tudo se apazigua no olhar do casal; mesmo sendo um olhar de prenúncio de algo feito sob lençois; dá pra sentir o amor; consigo me identificar; mas tenho inveja; toda a linha artística do tempo é contraditória; um movimento em oposição ao outro; nunca consigo pensar plenamente no amor; plenamente na raiva; plenamente na tristeza; penso no amor e me vem a inveja dos que se amam sem distância; penso na raiva mas logo não vejo fundamento nela; penso na tristeza e penso tanto que causo lágrimas fora do contexto, me fazendo vítima; ó vítima que sou!; tão hipócrita escondendo esses pensamentos pra mim mesma; tão vítima quanto um pscicopata; tão psicopata quanto uma borboleta; elas sim, as borboletas; elas me assustam mais que tudo;

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Lá em cima a lua brilha forte.

Acho que o seu combustível é o frio.
Tem uma aura gorda hoje. E avermelhada.
E mais pra baixo, lá na frente, o que é?
É o ônibus.
Chegou.


Sobre o que pensávamos mesmo?