2 de setembro de 2014

Kelvin

meu amigo,

hoje me dei conta de que passaram dez anos de nós. 
de nós juntos. de nós-riso, de nós-choro. de nós-trio sempre a ser completado.

meu irmão me deu de presente antecipado de aniversário esse pensamento, enquanto demonstrava tudo num lenço:
"imagine a sua vida como um cinto ou um lenço, ou um cordão. a dos outros também. 
vidas tesas, frouxas, flexíveis. vidas que seguem seu próprio caminho respeitando apenas a própria textura, a própria tessitura. algumas dessas vidas ondulam, outras arrebentam, umas outras permanecem com a mesma aparência por toda a sua existência, até amarelarem nas bordas. 
mas às vezes, o seu lenço enrosca em outro.
pode ser apenas um desvio, mas bastou esse encontro para alterar sua vida por completo. (veja o que acontece quando dois lenços esticados tentam se cruzar. afeto. afetação.)
nos relacionamentos duradouros, isso fica mais grave. seu lenço se envolve tão profundamente com o outro que fica difícil distinguir uma trança de um nó de marinheiro ou de uma espiral de dna.
a separação das cordas ou lenços, nesses casos, é mais dolorosa. 
mas note: uma corda que por anos se condiciona a um formato, quando se libera, permanece com a sua ondulação. assim é que os envolvidos em relacionamentos longos ficam depois de uma separação. ondulados. perpetuados nessa sensação de pertencimento.
para essas pessoas, a presença do outro é constante. necessária, mas não obrigatória.
para essas cordas, a lembrança vale mais que a dependência do convívio."

vi nossa amizade nisso 
no nosso modo particular de ser amigo. de deixar livre.

te amo.
e te quero ondulando a minha vida por mais quantos anos você quiser.