24 de novembro de 2007

Desabafo

Cansei de ser chamada de inconsequente.

Inconsequente é "quem não tem lógica nem conseqüência: incoerente, contraditório." Definição típica de um dicionário, mas não cabe a mim.

Detesto ter que contrariar mais uma vez meu pai em mais uma argumentação "justa" por excelência, mas, fato é que eu não sou inconsequente. Gostaria muito de ser.
Tenho consciência de tudo o que digo, tudo o que faço e principalmente tudo o que sinto.

Não digo o que digo para afrontar ou desmerecer ninguém.
Digo o que deve ser dito, para que a minha opinião seja válida.
Se digo disparates ou coisas ofensivas, peço desculpas, mas garanto que ainda assim sou consciente.
Nada foi dito numa atitude birrenta pelo calor do momento.
Digo o que precisa ser ouvido, e meus argumentos estão sujeitos a erros, assim como os seus.

Não faço o que faço para afrontar ou desmerecer ninguém.
Faço o que penso ser certo, ainda que não seja.
Faço por mim, não por minhas companhias.
Faço porque faço todo dia ou porque nunca mais poderá ser feito.
Penso antes de fazer, e faço porque penso demais.

Não sinto o que sinto para afrontar ou desmerecer ninguém.
Sinto porque preciso me sentir viva.
Sinto porque não ninguém me convenceu a sentir.
Sinto porque sentir não me foi imposto.
Sinto porque preciso de mais do apenas dizer e fazer.
Sinto sem saber por que o faço, sinto sem medir consequências, e sim! Chame-me então de inconsequente!
Mas não sem antes saber que o que é dito pode ser calado, o que é feito pode ser evitado, mas o que é sentido não pode ser arrancado nem proibido!

Cansei de ser censurada!
A mente voltada pro umbigo deveria ser banida!
As diferenças existem sim, e eu as amo mais que nunca!
Os problemas, obstáculos, e possíveis decepções que as minhas atitudes acarretarem serão de minha responsabilidade. Acredite, eu assumo todas as responsabilidades que dizem respeito à MINHA VIDA!

19 de novembro de 2007

A era dos amigos


A vida passa e a gente nem percebe.
Os dias nasceram, iluminaram, choveram, ventaram, aqueceram, esfriaram, clamaram por atenção a cada raio de sol e se tornaram mais belos ao pôr-do-sol.

Os dias são melhores testemunhas de nossas vidas do que nós mesmos. Reparam em cada segundo de silêncio, cada olhar de admiração, cada gesto de desprezo, cada suspiro de tédio. Reparam no que nos passa desapercebido, e não perdem nenhum detalhe, como um bebê que olha em volta em busca do desconhecido, os dias se redescobrem a todo momento, nunca esquecendo-se do dia anterior.

Conosco a vida passa diferente. Quantas vezes paramos pra ouvir o silêncio? Quando paramos de ser egocêntricos para ver a angústia muda de outro homem? Quantos olhares de amor já não perdemos por, simplesmente, esperar algo mais da paisagem além de um mísero olhar? E quando sentimos realmente o toque de um amigo? Ou um abraço de saudades? Até as coisas ditas nos são indiferentes. Elas geram um ardor momentâneo no coração, mas logo são esquecidas.

Tudo acaba sendo esquecido. O que foi dito, o que foi tocado, o que sofreu, o que amou. Nós não lembramos o por quê de termos amado algo, só o que sabemos é que, de fato, amamos.

Das situações se estabelece o amor, mas, uma vez já construído, que importância afinal tem as situações?! Elas não são critério de intensidade ou de valor, nem resumem o grande sentimento que delas foi gerado.

Sentiremos falta não das situações, nem do amor, mas sim das pessoas. Estas sim, nunca sairão de nossos corações.
Esqueceremos das risadas, dos conselhos, das lágrimas, dos rostos, das vozes.... mas olharemos para trás com saudades, daquilo que nem lembramos mais.

Mas os dias lembrarão, e os dias serão nossos amigos então. Aqueles que ao pôr-do-sol contarão coisas do passado, dos dias que já foram, ao lado dos amigos que foram com eles, e continuam lá, inseparáveis, esperando por nossas lágrimas para reviver em nossas memórias.

Os dias, os meses, os anos, o tempo, as vidas, os amigos...alguns permanecem, outros inesquecíveis, seguem caminhos opostos, mas nada se perde. Tudo está no diário reciclável da vida.

Esse incomum fim de ano, que ao mesmo tempo representa o fim de muitas outras coisas, o fim da rotina escolar, o fim da diária presença de nossos amigos, o fim de anos em que nada nos importava além do dia seguinte, em que sentaríamos novamente na mesma carteira, o fim de bhaskaras, de revoluções, fatoriais e sintaxes, o fim de amizades que não resistiriam além das paredes da escola..... o fim de uma era. Uma era de alegria, inocência, imprudência e proteção.


Amei cada momento.

12 de novembro de 2007

A flor e a náusea



Hoje tirei um tempo pra mim.
Aproveitei o fato de ficar trancada do lado de fora de casa e fui desbravar minha vizinhança.
E como o cárcere me esqueceu pra fora fiz o que qualquer pessoa faria. Fui até a praçinha meditar com os cocôs de cachorros não-cidadãos e com as pichações da juventude do país.

Não obstante, notei a pequena flor amarela que brotava ao lado de meu pé.
E lá me plantei com ela, sentindo o vento frio em minhas costas e o exalar da cidade à frente.
Olhando para os lados, saboreava com prazer a idéia de ser uma criatura abençoada pelo isolamento da metrópole, num canto esquecido pelos que já chegaram em suas casas para o conforto de suas televisões e abandonado por aqueles que nada mais querem além de voltar sãos e salvos para o lar.
E, apesar de estar cercada de prédios, e casas, e lojas, e vidas, tudo parecia sumir quando olhava para cima, contemplando a copa ao avesso da árvore.

E vi o meu avesso.
Começei a cantar canções de amor.
Canções de alegria e dor.
Canções para aqueles que deveriam estar no dever de suas obrigações no momento, muito preocupados com seus pensamentos para ouvir o que eu cantava.
E cantava pra mim. Fodam-se os moradores do prédio que querem prestar atenção na novela, foda-se o vento frio que me paralisava a cada baforada, fodam-se os vizinhos que levavam seus cachorros para o toillette!
Não que eu estivesse cantando alto...mas o baixo também pode incomodar. (Eu que o diga!)

E o que me passava pela cabeça era... nada! E tudo.
Pensei no tão admirado som dos passarinhos ao redor... e no quanto eles me irritam quando eu quero dormir até às 11!
Pensei nas palavras de um amigo...
Pensei no frio! Brrrr
Pensei no amor, em como ele pega no tranco, em como ele nasce, cresce, se reproduz e morre. É praticamente uma aula de biologia!
Pensei: "Nossa! Que dor de barriga!"
Pensei no aquecimento global... até esqueci do frio.
Pensei em Carlos Drummond de Andrade.... e lembrei daquela florzinha amarela e nauseante ao meu lado.
Pensei em rebeldia, em irresponsabilidade, em conformismo...
Pensei em Elis...e cantei Como Nossos Pais.

E depois de todas essas divagações...
Dois rapazes vem a meu encontro.
E sentam-se a poucos metros. E me observam.
E abocanham, mordem, estraçalham, mastigam e engolem minha brisa.
Brisa minha que me fez viajar por milhas sem fim sem sair do lugar.

E caí na real.
Doeu, mas estou bem.
Em casa, tomando chocolate quente...
E lembrando daquela pequena flor.