12 de novembro de 2007

A flor e a náusea



Hoje tirei um tempo pra mim.
Aproveitei o fato de ficar trancada do lado de fora de casa e fui desbravar minha vizinhança.
E como o cárcere me esqueceu pra fora fiz o que qualquer pessoa faria. Fui até a praçinha meditar com os cocôs de cachorros não-cidadãos e com as pichações da juventude do país.

Não obstante, notei a pequena flor amarela que brotava ao lado de meu pé.
E lá me plantei com ela, sentindo o vento frio em minhas costas e o exalar da cidade à frente.
Olhando para os lados, saboreava com prazer a idéia de ser uma criatura abençoada pelo isolamento da metrópole, num canto esquecido pelos que já chegaram em suas casas para o conforto de suas televisões e abandonado por aqueles que nada mais querem além de voltar sãos e salvos para o lar.
E, apesar de estar cercada de prédios, e casas, e lojas, e vidas, tudo parecia sumir quando olhava para cima, contemplando a copa ao avesso da árvore.

E vi o meu avesso.
Começei a cantar canções de amor.
Canções de alegria e dor.
Canções para aqueles que deveriam estar no dever de suas obrigações no momento, muito preocupados com seus pensamentos para ouvir o que eu cantava.
E cantava pra mim. Fodam-se os moradores do prédio que querem prestar atenção na novela, foda-se o vento frio que me paralisava a cada baforada, fodam-se os vizinhos que levavam seus cachorros para o toillette!
Não que eu estivesse cantando alto...mas o baixo também pode incomodar. (Eu que o diga!)

E o que me passava pela cabeça era... nada! E tudo.
Pensei no tão admirado som dos passarinhos ao redor... e no quanto eles me irritam quando eu quero dormir até às 11!
Pensei nas palavras de um amigo...
Pensei no frio! Brrrr
Pensei no amor, em como ele pega no tranco, em como ele nasce, cresce, se reproduz e morre. É praticamente uma aula de biologia!
Pensei: "Nossa! Que dor de barriga!"
Pensei no aquecimento global... até esqueci do frio.
Pensei em Carlos Drummond de Andrade.... e lembrei daquela florzinha amarela e nauseante ao meu lado.
Pensei em rebeldia, em irresponsabilidade, em conformismo...
Pensei em Elis...e cantei Como Nossos Pais.

E depois de todas essas divagações...
Dois rapazes vem a meu encontro.
E sentam-se a poucos metros. E me observam.
E abocanham, mordem, estraçalham, mastigam e engolem minha brisa.
Brisa minha que me fez viajar por milhas sem fim sem sair do lugar.

E caí na real.
Doeu, mas estou bem.
Em casa, tomando chocolate quente...
E lembrando daquela pequena flor.

3 comentários:

Anônimo disse...

Puxa vida! Logo qnd li o título percebi que seria algo que nos prende ao monitor (e foi).
garota, vc tem talento pra expor suas idéias no papel e me pergunto o quão fácil será sua redação num vestibular público pelo Brasil a fora.
Não sei se percebes Marô, mas combinamos no jeito de escrever. Me sinto como se tivesse sido eu o mentor de tais idéias subjetivas.
A Flor e a Náusea. Ótimo título, ótimo post. Adorei a parte das "palavras de um amigo"... e me pergunto: Quem foi este amigo que lhe disse algo memorável num momento de tamanha agonia, cantoria, enjôo e "náusea"?
Rsrsrs... Espero que lembre-se do meu blog, pq o seu, não esquecerei jamais.
Parabéns! poderosa.
Ah, a descrição do blog é muito divina, amei³ Gênia genial, te amo! Mas saia logo dessa subjetividade e junte-se a minha pessoa um dia desses. Adoro sua companhia! =P
[x,o] Bjos

Isabela disse...

"Don't stop believing!!"

Isabela disse...

olha


http://umoheumah.blogspot.com/