22 de dezembro de 2010

shhh!

essa chuva
além do molhado
traz gotas que engordam e choram na janela do ônibus
traz rodamoinhos de asfalto que se formam no passo sob a chuva
traz vontade de estar seca
por mais seca que já se esteja
de se secar mais
de mais secar
secar demais
de deitar de barriga pra cima
de não ter teto
de sentir a gota sem o frio da gota
sentir o quente da gota
e secar
ser seca
fechar os olhos e ouvir as folhas negras respirando sem foto nem síntese dançando pulando como camas trampolins de gotas gordas que caem
braço mais braço mais perna mais perna
secando
te ter aqui
junto com a
gota
gota
gota
gota

gota


gota




gota

plop.

17 de outubro de 2010

Quando o vazio esvazia-se, o que vem é o vácuo, e o vácuo oprime, pressiona, faz ser mais lógica a explosão do que o apaziguamento.
Abraço âncoras disfarçadas de bóias, mas escondida eu nado em direção à superfície. Sem braços laçando, sem pés batendo, nado com os olhos, a cada dia mais impermeáveis. Mas, devagar, eles afundam também. Afoga-se num mar de lágrimas secas e não enxerga mais o que antes era tão nítido.


Mas tenho de ser racional. Sou o menor dos problemas.

talvez

Talvez a minha maior perda do período seja a perda da capacidade de explicação. A explicação, de certo modo, tornava o problema miniatura e, generosa, dava-me instrumentos para manipulá-lo. Não que o problema tenha deixado de ser brinquedo. Mas o brinquedo virou outro. Ou eu virei outra manipuladora. Como quando uma criança não sabe explicar porque o brinquedo se move ou como botam vida lá dentro. A diferença entre a criança e mim é que eu não me pergunto mais. Não faz diferença se há vida ali dentro. Apenas sento imóvel e o fito.
Olhar morto. Peixe morto – ou vivo, dentro de um aquário pequeno.

6 de outubro de 2010

No dia em que sofreu, qualquer cama teria espinhos. Os risos eram árvores entreabertas por raios, inertes diante da proposta do vento. Os suspiros - que só existem para fazer audível o que pode permanecer seu - só faziam endurecer a parafina derretida. As bocas que se estendiam em apoio só mostravam placas bacterianas e as carícias feitas só se faziam perceber se fossem seguidas pelos olhos. A água verteu apenas durante o tempo que seria convertido em litros e cobrado na conta de água no fim do mês e correu-lhe os dedos como que para convencê-los da sua materialidade. O beijo morno deitava em seu lábio mas este leito hanseníaco não incluía cobertor na hospedagem. Dormiu. Ou passou um certo tempo deitada até que o respirar - não suspirar - do vento sobre a cortina a fizesse abrir os olhos. Fechou-os. E seus olhos fechados piscaram durante a noite.

No dia seguinte ao dia em que sofreu, o céu embranqueceu.

3 de outubro de 2010

Foi uma ferida funda.
Fissura afundada na fossa.
Fenda finda, finita na fonte afinal.
Se o medo vier
de encarar os sentimentos de uma distância tão grande que se torne impossível encará-los,
de fazer curso de paraquedismo e sobre as nuvens querer chão,
da secura trincar o poço esvaziado,
do olho morto tomar lugar,
da resignação que de indício verdade se torna,
de chorar apenas pelas coisas certas,
do apenas,
que medo haverá?
Não é que eu queira, que querer não é cristão. Mas querer é quase crer quando você diz e depois pensa. Creio que queira, então. Só não quero crer que quero. Afogando as consoantes, fundo querer a ser, a ter, a ver. Amar não, que amar com querer afirma "que mar!" e eu não gosto de praia.
Sobre meu travesseiro uma caricatura, uma varinha de condão, um pandeiro e um alarme desativado de incêndio.

De que me vale a cabeça?
E se eu te disser me siga, você vem?
De olhos fechados
Correndo
Nada sugerindo parada a 100 metros
Nada
Além do meu cheiro
e do espectro do meu beijo

Você vem?
Nada
e nadando sigo.

11 de setembro de 2010

Embebedai-vos

“É preciso estar-se, sempre, bêbado. Tudo está lá, eis a única questão.
Para não sentir o fardo do tempo que parte vossos ombros e verga-os para a terra,
é preciso embebedar-vos sem trégua.

Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a escolha é vossa. Mas embebedai-vos.

E se, às vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a grama verde de uma vala,
na solidão morna de vosso quarto, vós vos acordardes, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo o que passa, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: “É hora de embebedar-vos! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embebedai-vos, embebedai-vos sem parar!
De vinho, de poesia ou de virtude: a escolha é vossa.”


(Charles Baudelaire)

6 de setembro de 2010

nesta data querida

Só quando eu paro de correr atrás é que eu olho pra trás e vejo que não há ninguém correndo.

Parabéns, me dizem.
Ou não dizem, esquecem.
Ou não esquecem, não querem dizê-lo.
Melhor assim.
Antes o não dito sincero que o dito por obrigação.

Convenhamos, é maior que um aniversário. É não ter motivo pra sorrir porque nada daquilo que não faz sorrir parece ter um conforto em outro lugar. É saber disfarçar em respiração calma o choro amarrado. De feridas abertas trocar continuamente o curativo dos que já nem sentem a dor. Convencer-se da força para não enfraquecer ainda mais quem não tem mais alicerces seguros. Saudar as antigas amizades imaturas que seriam eternas enquanto durasse, eternidade estreita, insuficiente. Perguntar-se das amizades maduras, se existem, pois parecem desconfiadas demais para se deixar levar pelo abraço. Saber-se substituível depois de um auto-convencimento de anos sobre alguma coisa parecida com ser especial e única.

Duas décadas que a uma pessoa com má memória só vem as más lembranças.
Ou as boas e finitas.

29 de julho de 2010

navegando em terra

O soluço antecede a lágrima.
Em pequenos pulos, o corpo denunciava o dilúvio.
Convulsionava-se com movimentos que silenciavam o pranto.
Com o tempo, aprendeu a chorar liquidamente, apenas.
Em nó de marinheiro sua garganta se fechava, mas não subia à superfície em busca de oxigênio como antes. Sabia que o ar viria, era só esperar os passos passarem.
Passavam sem se deter.

À medida que se enchia por completo o mundo se esvaziava por completo. Nunca pensou que era assim que se sentia quem um dia estendesse e apertasse a mão de si mesmo. Que enfiando-se no espelho o que se espatifava era o lado de fora, que ver com os olhos de quem reflete é ver da moldura para fora e não da moldura para dentro. Tudo caíra com tal rapidez que os cacos pareciam querer compensar o incômodo tilintando no chão opaco. As imagens dizem, mas nunca podem ouvir.

Tilinta a saudade.
Mergulhada no espelho, brincou com as pequenas aranhinhas da solidão compartilhada, os garranchos que se faziam ouvir de longe mas que só queriam ser ouvidos por ela, para que "em qualquer lugar que estivesse lembrasse sempre que o passado era uma mentira, que a memória não tinha caminhos de regresso que toda primavera antiga era irrecuperável e que o amor mais desatinado e tenaz não passava de uma verdade efêmera."
Verdade efêmera. Verdade mundo, verdade tudo. Verdade onírica.
Verdade própria. Mas verdade.
E o que torna a mentira melhor?
O passado da memória saudosa é sépia, poético. Contrasta-se o presente em cores.
O que torna a tela branca obra é a mão, não a palheta. Na tela o presente existe sem laço, sem embrulho. Presente nu, despido de primavera.
Não haveria de regressar se o que se mostra aqui fosse grito.
Mas é eco
eco
do eco
do
eco
eco
eco
do que foi.
A reprodução automática é mérito do homem moderno.
Se esquece que não há reprodução viva que não seja criada.
E tudo parece normal, e a normalidade é devorada por cupins. Resta o desespero de dissecar o verme. De mostrar, de esfregar na mão, na cara, no corpo o bicho, para que acreditem na realidade do que corrói. Que a ruga não quer ser susto, que a frieza deixa de aquecer, mesmo sob um milhão de cobertores. A vontade de gritar o eco, para que se perceba como tal. A ânsia de ouvir resquício de saudade que não venha do chiado da própria respiração ao telefone.

Depois de tê-lo combatido, querer ser querida pelo que há do outro lado da moldura.
A carência absurda de pertencer a algo.
À deriva.

25 de julho de 2010

saco de pele, é o que ele é.

saco molhado por chuva velha, manchado da poeira dos homens
entupidor de ralos públicos
a origem do saco não se sabe
há muito não se enche de nada
de luxos, de necessidades, de sonhos
sabe-se, pelo seu semblante, da nostalgia do ar passado
ao afável ar se dispensava permissão
entrava sem bater
expandia e contraía como o ar enche e murcha o vivo ser
ao céu se dirigiam, dadas as mãos
nunca era o mesmo, o ar
mudava como mudam as folhas da árvore ao longo do ano
o ano encurta-se para instante
e as estações para sopro brisa rajada de vento
o sentido era qualquer direção
abria-se
e cheio rodava, dançava, dava mil cambalhotas
cada poro abrigava sensação diferente
o mundo diminuía
como se um dia fechá-lo em si fosse possível
mas o dia em si era melhor que o mundo pra si
longe do mundo
sob a condição de receber, apenas
recebendo receberia tudo
chuva, vento, ar, amor, estrela
e tudo quanto recebia beijava-o docemente
o beijo
o beijo ele queria guardar
e guardou.
choveu
o beijo escapou por uma fresta
o pingo que o beijava agora pingava
o ar que queria entrar não pôde, encheu outro
foi então que se viu
sozinho, murcho, molhado
o mundo aumentando
ele diminuindo
como se um dia fosse possível ser engolido por ele
e foi
o chão não o beijou
os pés não o beijaram
a sujeira não o beijou
pele murcha
pesada demais pra dançar
a água beijava o mundo e sem querer o levava na saliva


na baba do mundo ficou
e nunca mais recebeu coisa que fosse

22 de julho de 2010

O atrito do pé e a rotação da terra

Saiu.
Após a queda, tomado por um espírito irremediável de aventura, saiu andando.
Cada olho seu via coisa diferente. Vantagem de sua condição sem vértices.
Macio ou turbulento, percorria os inóspitos domínios de sua existência, sem nunca ser detido por forças alheias.
Percorreu relvas marrons, montanhas serrosas.
Na planície, desejou a saída. Escura, fria, sombreada por nuvens cortinadas, a paisagem impelia quem fosse à aventura. Seu desânimo consequente foi questionado ao vislumbrar novamente Tyndall nos raios que se metiam no lugar. Sentia que poderia pegá-los e torná-los sabres de luz, como outrora vira, certa vez, em sua longa e já esquecida vida. Não pôde fazê-lo, no entanto.
A desilusão apontou-lhe a saída, e seguiu o aventureiro sem destino.
Sua ausência de destino sempre foi o que trilhou previsivelmente sua vida. Alardeando autonomia, via-se sempre no compasso de passos que não eram os seus.

E compassado ia. Com o passado ia.
Desbravou a si mesmo na jornada. A vida rolava ao seu lado.
Lembrou de que não há existência sem comparação. Não há morte sem vida, silêncio sem som, nem movimento sem imobilidade. Não sabia o que se movia, já que tudo precisa de um referencial, se ele ou o resto. Suas referências formavam borrões ao seu lado, de tão rápido se moviam em sentido contrário ao seu.
Convenceu-se de que estava parado. E foi a primeira vez que o mundo parou.
Não aguentou. Se além dele nada se mexia por não ter a quem se comparar, tinha que prosseguir.
O vento soprava rajadas ofensivas de poeira cósmica.
Desviava das folhas silenciosas que deitavam para a sesta.
Rumores de vozes e passos retumbavam em suas solas gastas.
A claridade fazia-se vermelha e depois negra.

Viu diante de si um abismo. Sua labirintite provocou nele a ânsia suicída de pular. Mergulhou em moléculas pesadas. Cardumes de pensamentos perpassavam ele, seduzindo-o com coloridas escamas gelatinosas e fugidias, mas sumiam logo, abandonando-o à imensidão de si. Sua trajetória existia à mercê da corrente imprevisível que o guiava pela mão posta sob a sua, fluida, obstinada. A partitura que se desenhava em nada se assemelhava ao que conhecia por dança. Seu tempo era elástico, malha lycra. Seu compasso não havia. Tinha ritmo, porém. O ritmo do ciclo, o ritmo do infinito, o ritmo do fim. Acariciava corais de crochê e fazia piruetas, locomovendo assim corpos que não viam necessidade de se locomover. Criaturas de muitos, poucos ou sem olhos prosseguiam sua rotina como se o intruso não existisse. Tudo se coloria pela luz guache que vinha de cima, dos lados, do fundo. O sonho nunca foi desejado mais real como neste momento em que o que via. Todas as coisas aumentavam e diminuam de escala a seu bel-prazer, engordando em velocidades inimagináveis e emagrecendo sem regime. Seres sem humanidade, sem realidade, brotavam das entranhas de algo que se assemelhava ao nada, mas o nada não existia porque aquilo ainda não era o tudo e não há nada sem tudo, nem tudo sem nada, e quando aquilo fosse o tudo, aquilo seria sua realidade, e a sua realidade iria então querer uma saída, e a saída seria o nada, que passaria a existir então, mas nunca seria encontrado, porque o tudo seria uma fronteira. A mão sob a sua fez-se impalpável, água. A corrente que o conduzia, que sempre o conduziu sem que se assumisse, sumiu. Os cardumes magicamente perdiam sua unidade e seus integrantes caiam em todas as direções, sendo no caminho mortos e escamados e esquartejados e enrolados em arroz grudento e algas. As sobras sem arremate tensionavam-se e os corais coloridos desintegravam-se em linhas lisas que, desamparadas, buscavam seus novelos numa corrida tão sem rumo que embolavam-se em nós eternos. As coisas gordas e luminosas comparáveis a marshmallows secaram-se em tripas escuras por osmose, morrendo ao se render ao meio. Os muitos, poucos e não-olhos fecharam-se descontentes, numa longa piscadela sem volta. Do guache fez-se o nanquim, manchando a vida de morte. Uma luz cegou-o. Viu que o lustre iluminava o triste cenário destruído por ele mesmo. Nadou o fugitivo. Esforçava-se em seguir a fonte que o iluminava, e quanto mais se aproximava mais via a silhueta negra do barco que desejava.


A luz que o cegava era tão negra quanto nas abissais oceânicas.
A pressão era tão grande quanto no fundo imaginado de qualquer mar.
O ar era tão escasso quanto num afogamento.
Jorrou do impacto um gêiser de lágrimas, irrompida a divisão com a superfície.


Habituou-se à luz, à pressão, ao ar. Sempre habituou-se a tudo.
As proporções o remetiam às lembranças ensinadas de normalidade.
O jorro lacrimal apenas pingava agora.


O barco era a cama.
Subiu, subjugado ao destino assumido.
Rolou as cobertas,
subiu a menina,
deslizou em seu colo,
encontrou sua corrente,
prendeu-se a ela.


E o peso do mundo no colar da menina a acordou.

21 de julho de 2010

vendo flores artesanais

Da trama
Da forma
Das arestas
Dos fiapos
Das agulhas


fazer flores soa pretensioso
uma
meus trapos ao chão forram a cama
após outra
divisórias de oxigênio
e outra
a beleza do mundo parado
uma quarta
ponteiros disputando corrida
arremate
névoa branca nas narinas peludas
mais uma
faço-me dispensável
depois mais uma
a espera de um susto
e outra
correr sentada tropeçar e sentar
a penúltima
persuadindo a mão de seu fim
e última
o recomeço tarda
linha
impotência de ser sem ser
pano
palavras para ninguém que apenas ouça

apegada ao desespero de se apegar
quero escrever, mas não sei o que
pra sujar essa página branca há tempo demais, sinto-me obrigada.

Essa especulação já suja suja o que eu queria sujar.

Ademais, blá blá blá

12 de abril de 2010

Billie may understand me.



I'll get by
As long as I have you
Oh there'be rain
And darkness too
I'll not complain
I'll live with you
Poverty
May come to me that's true
But what care I
I'll get by
As long as I have you
Ah, but tears may come to me
That's true
But what care I, say
I'll get by, as long as I have you

::::::::::::::::::::::::::::::::::

Please keep me in your dreams
In your sweet dreams let me hold you
When through your window
The breeze comes swingin'
It's just bringin' this love song that I'm singin'
Please keep me in your dreams
My kiss it seems must have told you
My heart you'll borrow until tomorrow
So please keep me in your dreams

::::::::::::::::::::::::::::::::::

If you were mine
I could be a ruler of kings
And if you were mine
I could do such wonderful things
I'd say to a star
Stop where you are
Light up my lover's way
And every star above you
Would obey, say
If you were mine
I would live for your love alone
To kneel at your shrine
I would give up all that I own
Yes even my heart
Even my life
I'd trade it all for you
And think I was lucky too
If you were mine

:::::::::::::::::::::::::::::::::

Me, myself and I
Have just one point of view
We're convinced
There's no one else like you
It can't be denied dear
You brought the sun to us
We'd be satisfied dear
If you, you'd belong to one of us

So if you pass me by
Three hearts will break in two
Cause me, myself and I
Are all in love with you

11 de abril de 2010

Sobre o tempo branco não há muito o que dizer.
O som do tempo branco é o silêncio.
Sob o teto branco
Eu me recolho
O silêncio nunca foi tão barulhento.

Não é dia para escrever; nem dia pra sentir.

4 de fevereiro de 2010

Amanhã me demito.
Amanhã faço um ano de trabalho.
E este amanhã é o mesmo dia, senhores!

Gosto do cheiro do livro.
Gosto das prosas da venda-compra.
Gosto da desordem.
Gosto da não-preocupação com objetivos do dia.
Gosto de pessoas - sem dinheiro na mão e julgamento na boca.
Gosto dos sábados.
Gosto de lá - quando não há olhares acima.

Amanhã vou chorar.
Amanhã me demito.
Amanhã faço um ano no trabalho.
E este amanhã é o mesmo dia, senhores!

Queria ter lido mais.
Queria ter parado de trabalhar e conversado mais.
Queria cuspir sapos.
Queria dizer que salário não constrói caráter.
Queria ter achado um emprego antes de me demitir.

Amanhã vou me arrepender.
Amanhã vou chorar.
Amanhã me demito.
Amanhã faço um ano no trabalho.
E este amanhã é o mesmo dia, senhores!

Volto a ser de casa.
Volto a ver gente.
Volto a fazer o que gosto.
Volto a querer ser independente.
Volto a amar passeios.

Amanhã serei livre.
Amanhã vou me arrepender.
Amanhã vou chorar.
Amanhã me demito.
Amanhã faço um ano no trabalho.
E este amanhã é o mesmo dia, senhores!
Escreva, pois!

no ato de escrever
me hipnotizo quando pequenos quadrados inscritos por letras são pressionados
e ao olhar pra cima
vejo as mesmas letras
alinhadas de forma a mostrar que elas têm significado.

manualmente
essas letras, já em grupos de excursão escolar
dançam os acordes de sinapses
pulam de gomo em gomo no cérebro apertado
transitam memória, sensação e dor
depois se esvaem em lágrima, riso e amor

na automatização do teclado
ou da mão
as letras viram palavras
e as palavras, algo.


Nem sei o quê.
Falando sobre o ontem,
Durou muito o ontem,
pelo fato de o ontem querer ser anteontem.
O desejo do ontem era ser amanhã.

Não passei na USP.
Passei na UNESP.

Entre dois belos doces
O de aparência mais doce dentre os dois
embolorou
ao que o outro
caiu na minha mão.


TEATRO, ENFIM!