25 de julho de 2010

saco de pele, é o que ele é.

saco molhado por chuva velha, manchado da poeira dos homens
entupidor de ralos públicos
a origem do saco não se sabe
há muito não se enche de nada
de luxos, de necessidades, de sonhos
sabe-se, pelo seu semblante, da nostalgia do ar passado
ao afável ar se dispensava permissão
entrava sem bater
expandia e contraía como o ar enche e murcha o vivo ser
ao céu se dirigiam, dadas as mãos
nunca era o mesmo, o ar
mudava como mudam as folhas da árvore ao longo do ano
o ano encurta-se para instante
e as estações para sopro brisa rajada de vento
o sentido era qualquer direção
abria-se
e cheio rodava, dançava, dava mil cambalhotas
cada poro abrigava sensação diferente
o mundo diminuía
como se um dia fechá-lo em si fosse possível
mas o dia em si era melhor que o mundo pra si
longe do mundo
sob a condição de receber, apenas
recebendo receberia tudo
chuva, vento, ar, amor, estrela
e tudo quanto recebia beijava-o docemente
o beijo
o beijo ele queria guardar
e guardou.
choveu
o beijo escapou por uma fresta
o pingo que o beijava agora pingava
o ar que queria entrar não pôde, encheu outro
foi então que se viu
sozinho, murcho, molhado
o mundo aumentando
ele diminuindo
como se um dia fosse possível ser engolido por ele
e foi
o chão não o beijou
os pés não o beijaram
a sujeira não o beijou
pele murcha
pesada demais pra dançar
a água beijava o mundo e sem querer o levava na saliva


na baba do mundo ficou
e nunca mais recebeu coisa que fosse

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