29 de junho de 2008

Sobre um dia... Atípico.

Felicidade não é perceptível quando se faz um balanço geral, uma média entre bons e maus momentos da nossa vida.
Percebo felicidade nos momentos, que podem durar segundos ou horas, como foi o caso hoje.
Instantes curtos, mas não efêmeros.
Trazem consigo um peso de eternidade, uma paralização do tempo.

Compararia todo esse dia a uma grande perda consciente de consciência.
Um desmaio contínuo de oito horas, uma desassociação de todas as obrigações, deveres, das coisas massantes que compõe nossos dias naturalmente robotizados.
Uma entrega integral a sentimentos antes desconhecidos ou não-entendidos.

Mas há uma grande diferença entre este desmaio a que me refiro e aquele que faz com que meninas indefesas tremam de medo diante de uma padaria solidária.
A sensação de sonho constante não passa.
E a diferença deste dia feliz para tantos outros dias felizes é que eu não precisei chegar ao seu fim, olhar o espelho e me dar conta de que de fato, foi um bom dia. Me dava conta disso a cada segundo, do começo ao fim.

Nada teria o poder de destruir tal dia.
Foi demasiado bom para que um carrinho de resgate qualquer o destruísse.
Consideremos este como um lapso, sabe?
Como naqueles sonhos, em que temos a situação perfeita - com a pessoa certa, num lugar alheio ao mundo, ao som de uma trilha sonora inesquecível - e algo como um pinguim de mini saia cantando Éguinha Pocotó aparece.
Se me permite dizer, desculpas são entediantes.
Principalmete quando não há o que desculpar.
Nem tudo precisa de uma explicação sensata.
Aliás, se tudo tivesse uma definição de enciclopédia, aquelas trocas de olhares não seriam tão significativas, já que há coisas que palavras estragam sem querer.

São imprevistos, surreais situações paralelas que exaltam todo o magnífico dia daquele parque isoladamente lotado e daquela pessoa infalivelmente maravilhosa.

Tanto a dizer, e, no entanto, só me vem à cabeça uma palavra:
Obrigada.

24 de junho de 2008

Tarô-lógico

A inércia me consome.

Sou tomada por todos os lados por forças que me anulam.
A energia potencial em mim se deixa conduzir pela total letargia.
E sim, essa é uma referência a minha aula de física de ontem.

Mas, ignorando aulas, conselhos e condições...
O que eu quero?

Paira essa nuvem sólida sobre a minha cabeça, em contraposição a todos os objetivos que já me foram dados e /ou criados por mim.
Agora sou levada pela maré, mas a espera de que?
De um bote laranja que me conduzirá a terras firmes?
De uma pequena ilha com um coqueiro no meio?
De um grande continente, a minha espera para ser explorado?
Ou apenas de continuar a deriva, desbravando os mares e ficando com e pele toda enrugada?


Ah, a angustiante situação da escolha.

Pedi a minha irmã que tirasse meu tarô, outro dia.
'Um tarô mitológico', disse ela.
'Ai, me custou tão caro e já apresenta esses defeitinhos...'
É bom saber que o meu tão esperado destino está em algumas cartas defeituosas e custosas.
Pelo menos a coisa assume uma márcara mais real, mais contemporânea.

Mas, de fato, aquele tarô me assustou.
O ilustrador deveria ganhar um prêmio Nobel de Terror, com suas facetas obscuras e significados ocultos nos lugares mais insignificantes, como o Lírio branco jogado atrás da árvore escura, que serve de abrigo para os esquilos do vale, que assistem ao pôr-do-sol de cores incandescentes, ofuscando a visão da mulher de vestido rosa que passa em frente ao rio.
Realmente, só a carta merece mais dedicação em sua interpretação do que a própria vida da pessoa!

Mas enfim, depois de dois jogos de tarô, descobri que - atentem bem, é uma descoberta supreendente - minha vida se encontra numa encruzilhada.
'Minha nossa!', vocês dirão.
Não é surpresa pra mim, para descontentamento geral.
Seria uma surpresa se, por um lapso do destino, eu escolhesse um caminho por fim!

Uma carta em especial me causou um pouco de desconforto.
Nessa carta paira a dúvida, o conflito, a indecisão. (não diga!)
Há uma mulher e um cachorro sem face por olharem para muitos lugares ao mesmo tempo.
Há uma atmosfera escura, uma lua aparentemente plácida e uma paisagem aterradora.

Mas o que me atraiu maior atenção foi a presença de um caranguejo, aos pés da moça.
'O caranguejo não sabe a qual mundo pertence...' disse o livro de interpretação - minha irmã ainda não é taróloga profissional, tenham paciência- 'ele vive ao mesmo tempo em comunhão e repulsa com a água e a terra, se divide entre o sólido e o líquido. Pertence aos dois mundos, não admite invasões ou salvamentos, vive num impasse.'


Caranguejo, caranguejinho.
Sua aparência antes me repelia, sua carne me servia de almoço.
Mas agora sua personalidade me atrai, me intriga.



Por que me rendo a essas divagações, quando poderia estar fazendo algo, então?
...
Boa pergunta.