6 de outubro de 2010

No dia em que sofreu, qualquer cama teria espinhos. Os risos eram árvores entreabertas por raios, inertes diante da proposta do vento. Os suspiros - que só existem para fazer audível o que pode permanecer seu - só faziam endurecer a parafina derretida. As bocas que se estendiam em apoio só mostravam placas bacterianas e as carícias feitas só se faziam perceber se fossem seguidas pelos olhos. A água verteu apenas durante o tempo que seria convertido em litros e cobrado na conta de água no fim do mês e correu-lhe os dedos como que para convencê-los da sua materialidade. O beijo morno deitava em seu lábio mas este leito hanseníaco não incluía cobertor na hospedagem. Dormiu. Ou passou um certo tempo deitada até que o respirar - não suspirar - do vento sobre a cortina a fizesse abrir os olhos. Fechou-os. E seus olhos fechados piscaram durante a noite.

No dia seguinte ao dia em que sofreu, o céu embranqueceu.

Um comentário:

Arthur disse...

Adorei o texto. Gostei muito do uso de certas palavras. É quase uma melodia. Talvez fale de algo próximo, mas ao mesmo tempo me parece algo tão distante...

beijos!!