6 de outubro de 2017

bicho

a estranha sensação da vida pertencer mais aos outros do que a mim
e o esforço contínuo de tomar pra mim, tomar pra mim
tomar pra mim o que deveria ser meu
como os passos que eu dou, a princípio
e os olhares que fogem de mim apesar de quererem olhar

e aquele que foge nem percebe que o bicho que se teme está preso em jaula, sem apetite
fraco para rugir
e se solto, provável que não causasse nada ao mundo além de pesadas pegadas
que assim acuado, preso, cutucado às vezes com vara de ponta aguda pra se lembrar de sentir qualquer coisa, assim ele parece uma ameaça
assim como aquele bicho que cutuca - este dono de uma vara, e da paz de grades de ferro que ele mesmo construiu para a proteção do seu mundo
ou para o atrofiamento do mundo do outro

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