17 de dezembro de 2017

nota da autora

Aos visitantes, recomendo cautela na leitura destes pensamentos.
Todo eu-lírico é cartesiano na medida em que compreende seus eixos a cada cálculo, e é pelos eixos que o desenrolar das palavras se dá. Mas a razão de um eu-lírico ao eu-lírico pertence.

A expressão é ficcional, por si. Não há ali pretensão de traduzir qualquer realidade, mas de reconfigurá-la em outro formato, para que seja possível a ver com distância e assim conseguir falar sobre ela. Só com espaço as palavras se movimentam.

A expressão do espírito é ficcional porque a realidade às vezes é fétida e horrenda. 
(Ficcionalizar o fétido e horrendo é descrever um pântano e suas brumas, seu lodo que penetra as meias e os orificios todos, é sentir no enxofre o cheiro do diabo e acreditá-lo ali) Mas não só. A expressão do espírito é ficcional porque a realidade é de fato poética, inclusive no que há nela de podre - talvez principalmente pelo que há nela de podre. 

E sobre a inconstância, volto aos eixos. Não há ser humano que ande em linha reta. Os pensamentos e emoções são equações complexas que geram no espaço e no tempo curvas ao mesmo tempo próximas e imensuravelmente distantes da noção de infinito bem como das abcissas e ordenadas e de tudo aquilo que é reconhecível.

Este blog não pretende ser verossímil, constante, uníssono, pois nenhuma vida o é. Aqui há lacunas, há saltos, há tombos, há supernovas e buracos negros. E há também o movimentos sutil das nuvens que se aproximam há horas desta janela, e dos goles d'água que dou enquanto tusso uma bronquite crônica e sem sossego. Há o cortante da minha dor que afasta e machuca, e há pedidos de desculpa e erratas que o silêncio me traz como inspiração. Há amor, muito amor, e todo o cansaço que dele vêm. Há saudades e suas variantes. Há escritos de quem acaba de se tocar, bem como escritos de quem precisa escrever sobre a ausência do toque desejado.

Há aqui o complexo de uma vida, e este não deve ser lido ao pé da letra, mas nas letras que os pés escrevem.



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