25 de julho de 2012

refresco

eu quero tocar fogo nesta casa
e sentir no crepitar da pele o não crepitar do resto
ver-me aconchegada assim, nesse quente, nesse ardor
enquanto os outros calores esperam do lado de fora
longe das labaredas daqui vão ficando frios
sem oxigênio de suspiros pra combustão 
e sentada no sofá me lembrarei de algo
e pensarei ouvir alguma coisa
até cogitarei interromper tudo e atender à porta
passar batom nos lábios mortos
e te atender como quem não esperava

mas permaneci assim, imóvel
só um sorriso débil borrando-me o rosto
e um daqueles silêncios mais silêncios 
que estão sempre lá pra anteceder qualquer coisa
e a coisa não chega
foi quando um vento fino abriu a cortina e,
junto com a sua ausência,
me apagou.

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