7 de maio de 2012

céu de areia

Nos depositamos nos outros até que virem a ampulheta
E é sempre antes do último grão, é peso demasiado afinal.
Convenhamos, areia nenhuma se assenta desse jeito, a não ser na transição.
Nem é muito peso, é só peso cansado
Peso que busca chão, que cansou de ser objeto do tempo
E das aflições e das desistências e dos amores e das desilusões.
Areia que cansou de ser unidade de medida,
Corpo que cansou de ser unidade de controle.
A alma só quer ceder à gravidade, só quer permanecer um pouco, independer-se do tempo.
Mas o refúgio da alma, assim como o da areia, é o próprio estrangulamento da passagem, é esse nó de garganta pelo qual custa passar qualquer coisa, é essa incapacidade de estar em outro lugar que não seja o da mudança, é essa ausência de origem e de destino. O ar é o que acalenta a areia, e ele é frio.

E de chão a teto, o que fica é só o tempo.

Nenhum comentário: