1 de fevereiro de 2012

Um diário só existe nos dias ruins, só eles que têm vontade de ser escritos. Dias sem decepções só dão vontade de abrir a geladeira. Dias banais não dão literatura e não querem ser lidos, tampouco. Preferem ser esquecidos no limbo da suposta felicidade que vai me fazer um dia olhar pra trás e dizer "eu era feliz e não sabia". Não sabia porque não tive vontade de falar sobre eles, e não ter vontade de falar pode ser fruto do arrebatamento mas também fruto da mediocridade da suposta felicidade. Mas sempre terei certeza dos meus dias tristes. Direi "eu era triste e sabia" e "devo ter sido feliz, mas não sabia porque estava ocupado sendo feliz", e se um dia minha sanidade cessar, vou me esquecer de lembrar que devo ter sido feliz, e começarei a escrever pela trigésima vez um diário pra não esquecer mais, nunca mais, dos meus últimos dias felizes. Então, enquanto estiver escrevendo, pensarei que são os meus últimos dias, e eles se tornarão tristes. Porque as palavras não traduzem felicidade. Porque a dor sonha que um dia vai se encerrar em si mesma (mas não consegue, coitada). Porque enquanto a alegria te faz dormir pesado, a dor te tira o sono. E sem sono você pensa na dor. Sem sono você quer falar sobre ela, quer que o mundo a conheça. Deitados na cama sem ninguém pra entendê-los melhor do que vocês mesmo, vem a verdade: Você a ama (é rima pobre, amor e dor, bem sei). Você a ama mais até do que a felicidade dos dias esquecidos, ama porque ela te faz lembrar do que nunca lembramos nos dias bons. De nós mesmos. O diário é bom quando se torna semanário, quinzenário. É bom quando pula dias que foram felizes por qualquer razão e coloca em suas linhas a transcrição de uma conversa de cama, sob lençóis. Transcrição íntima de uma conversa consigo mesmo. Um Si-ário.

Se bem que no fundo eu escrevi tudo isso só pra justificar um blog tão depressivo.

Um comentário:

Bá disse...

Pior que é verdade. Pensei nisso da última vez que decidi escrever um diário e me peguei num desabafo louco que teoricamente ninguem deveria ler. E depois de ter escrito a segunda e a terceira vez, pensei nisso de novo. E outra vez quando não tive vontade nenhuma de escrever. Por que somos assim tão desgostoso da vida?